T.
Todas as bocas que tocaram seu rosto, cada segredo destilado no tempo de quem acreditou sem medo, hoje são nada, nostalgia de quem esqueceu de amar. Sei que teu corpo abriga além de restos de nicotina e sonos fracos, um terço de rancor e angustia por cada um que lhe deixou sem chão.
O amargo te cai bem e agora, cada qual que você trocou por afeto efêmero nessas ruas da nossa cidade caída, de lábios que te encostaram por satisfação comprada, por tanto, sei que sente e te culpa nesse período de solidão. Ser só é assim, bem sei.
Cada madrugada que acordo de olhos arregalados no meu suor noturno, me sinto menos que a anterior. Procuro vocês dois nas camas vazias do meu lado, jogo o braço de olhos fechados, tento encontrar alguma sobra no meu travesseiro. Me lembro quando culpou a moral imposta dentro desse caos, sem saber que nada tinha com isso, era só amar com entranhas a quem lhe deu o minimo, como nós.
Fico aqui e a mim as imagens são insuportáveis, quase projetadas no teto rachado do corredor e do nosso quarto e penso no seu medo, no meu medo, esse que nos faz em prantos quando o peito afunda e o ar quase acaba. Ele também foi embora, te conto já que não se importou em saber, não suportou olhar seus desenhos na parede da sala, nem se sentar ao meu lado no sofá. Perdi as contas de quantas vezes tentamos mudar a posição dos móveis, jogar roupas suas aos poucos fora, esconder as fotos na garagem com panos velhos, suas mentiras não nos deixaram seguir. E muito mudou desde aquele dia, somos outros agora.
Se hoje me entrego a tantos é por ter amado demais e me cuidado de menos. Em cada abraço um pouco de afeto, busco em cada canto.
Me maltrata aqui de longe quando escreve assim, me quebra em fagulhas não poder estar ai, mesmo depois de tanto.
Sinto muito por você.
Alice