quinta-feira, 24 de abril de 2014

Me disseram que a vida é bela, trapaça, é bonita quando quer e a quem a interessar. Aos de existência miserável, nada. É baixa por arrancar sorrisos doídos em meio ao barulho impenetrável dos que vivem no topo. 
Tenho uma alegria, ou metade disso, mas a grosso modo a mente agoniza sozinha. Era fácil quando os santos ouviam nossos pedidos. Sinto muito por nós, sinto muito por você, sinto muito e é por tal que não anulo o anulável como os demais de cabeças retidas. Assim corro, mal durmo e me alimento dos restos dessas escolhas forçadas. 
Se me foi tirado o rosto iluminado, é porque viver nessa cidade é não viver. Fazemos parte do medo da faceta suja do que exaltam -  e nós absorvemos por osmose. Sei que vou aguentar calada mesmo com a mente surrada e com cada pedaço oco. Vou sorrir torto, gargalhar sem esperar nada e fingir que aqui nada é bagunça e meu pensamento não é feito de malha embaraçada. E esses corpos continuarão inertes a qualquer agressão, mas por dentro gritam toda raiva engasgada.
Tem dias que o ar é denso e a vontade de levantar é falsa, nesses estalos quero colo e cama, mas me dou conta que crescer pede força, e essa me falta. Uma mão para dividir o peso das fases erradas.
A calma é efêmera, me faz desasosegar em falhas de minutos, caminha longe e não lembro quando esqueci o que era ter um pouco aqui dentro. Deixa fel socado esófago abaixo e fico imersa em contradição por querer ser menos eu em algumas horas do ano. Não posso ser mais outra e menos eu. Não posso.
Pedaços mal fixados nessas pessoas uníssonas, sobrecarregadas como eu, como você, sem culpa por passos repetidos. Esses modos são doentios. Sei que adoeço junto e por adoecer me maltrato quando não reajo ao que não posso, ou posso, ceder. 
Nos sentamos lado a lado na sala de domingo e esperamos um respingo, um algo, que preencha esse vazio. E que assim eu possa sorrir aliviada, um riso de verdade, que não me divida entre dor e melancolia exacerbada, porque no fundo existe contentamento encoberto por sofrimento precoce de uma pessoa cansada.