domingo, 27 de fevereiro de 2011

Agora era fatal, que o faz-de-conta terminasse assim.


Busquei me completar e no desenfreio, sem querer, entrei em algum beco sem sentido, com volta programada.
Tentei achar em outro o que deveria manter desacompanhada, sem condição de ajuda, nula.
Não percebi e desperdicei dentro de mim, aquilo que um dia tentou ir embora, mas voltou. Realmente? Sempre fez parte do inteiro.
Joguei aos animais que ainda rugem inteiramente nas veias, no sangue, não mais quente, agora frio, pouco que ainda restava do passado, não conseguiram devorar, o gosto é descontroladamente forte.
Calei , como se pudesse de alguma forma me tornar indiferente ao que sinto, mas nunca, apenas ignorei.
Sem conseguir levar-me onde quero estar, abro essas portas, fito os corredores e tenho medo de sair. Mantenho-me aqui há anos, sem diferenças, assim, sem fim.
Converso com roupas amassadas, seus relógios travados, disperso, sem atenção, sem condição de lembrar.
Escuto você me colocar no colo e acalmar:
“Agora eu era o rei, era o bedel e era também juiz e pela minha lei, a gente era obrigado a ser feliz. E você era a princesa que eu fiz coroar....Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo, no tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido...”
Desenho frestas dos olhos, de quem, observa de longe e sinto saudade, do único, que um dia, chamei de meu, aquele que me deu vida.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Mutável.



Pensei que me proteger bastaria para manter a insanidade que tanto me fascina.
Evitei discursos prontos, repetições, padrões. Inútil no meu ambiente, na minha mente.
Banal foi a vida comum, o cidadão inconsciente, contraditório, a importância do Nada na sociedade, com "N" maiúsculo, como outros tais que para garantir superioridade se auto-intitulam. O Nada que desaparece, no mundo onde a prioridade é o próprio nada.
Fugi como alguém covarde ou como presa ágil, que corre do predador.
Lutei de frente, de cara com o monstro cotidiano.
Mas um dia se cansa e aprende, olha com desdém. Porradas mentais, um ringue de telequete invandindo teu dia, apenas encenação, mas querem te derrubar, arranhões.
Algumas horas se passam, quer entrar e não sair, como nos filmes, onde as drogas te alucinam para aliviar teus pensamentos, ou os aceleram mais para te tornar alguem melhor. Se lembra que aqui , a vida é real. Nada é absoluto como em uma historia.
Te levar daqui, mas vai pagar o preço, não sabe? Esqueceu que anda acorrentando ? Desde que me lembro, nasci e me prendi.
Tropeço em minhas letras, os versos são tortos, o que gira torna-se desfigurado. Esse que vivemos.
A neblina cobre meus passos, mas a luz que escorre pelos cantos, no asfalto da cidade e no reflexo do espelho, guia meu caminho. Qual rumo?
Desperta, no complexo ambiente que vive, tenta se encaixar, poucas verdades, muita confusão. Adormece no colo da insanidade, poucas tentativas, muitas vontades, infinitas frustações.
Saberia o movimento do  pulmão , o pulso da respiração e o afobamento do sangue em correr se retirasse todos teus questionamentos e verdades absolutas.
Algum dia prometi a minha mesma ser com  meus ossos e carne, imutável. Mas ser quem eu fui, quem sou e quem nunca fui me cansou.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Só esse teu olhar

Me faz me traz
Te busco no fundo
Me pega no ar
Te levo para longe



No íntimo desse olhar, de perto, difícil de desvendar, repleto de enigmas que procuro alcançar.
Conheço pouco, tal consegue me fazer pensar.
Um tanto de meias palavras, mal formuladas, tentam nos perder nos sons das próprias bocas.
Viajo no tom da sua voz e me pego olhando para sua pele, acariciando teus braços.
Cesso o tempo para você não se esquivar, forço os pés no chão para ficar.
Deito e adormeço querendo te encontrar, desejo tão maior, sinto teus cabelos, teu cheiro de perto.
Acordo, lembro, vem me procurar, descobrir, me moldar.


"De longe,vejo o traço do teu sorriso,que esconde teu singelo paraíso"


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

La Belle Verte





Texto que deu origem ao filme "La Belle Verte" de Coline Serreau.
(O importante é o sentido do texto)
“Il est minuit, la ville dort, je me mets à entendre le silence.
Je ne suis pas mystique, je n’entends pas des voix et ne fais pas du pathos avec les petits oiseaux cuicuicui, j’ai simplement eu ce soir-là l’expérience concrète, difficile à traduire en mots, de mon lien avec ce qu’on appelle l’inanimé, le végétal. J’ai compris là, dans la solitude de cette nuit, que s’il existait une “âme”, les arbres et nous avions rigoureusement la même”.
Je crois que je suis seule, mais un bruit léger me frappe les oreilles, un bruissement, comme une parole : en face de moi, un grand arbre balance doucement ses jeunes feuilles dans l’air de la nuit. Il a trois branches principales qui se rapprochent, s’éloignent, se groupent par 2, puis par 3, se cognent légèrement, oscillent avec une amplitude limitée en bas, majestueuse en haut.
Les feuilles sont animées de leur propre mouvement à l’intérieur du balancement général, leurs faces mates et brillantes s’allument et s’éteignent alternativement. Je regarde l’arbre entier, son agitation calme, sa réactivité immédiate à la moindre caresse de l’air et j’oublie tout.
Le taxi, l’hôtel, les soucis, le scénario, les anticipations négatives et positives n’existent plus, un calme incroyable s’empare de moi, tout se détend, je ne suis qu’ici et maintenant plongée dans le mouvement de cet arbre, délice.
Je ne sais pas combien de temps a duré le dialogue avec l’arbre, mais j’ai eu le sentiment de communiquer avec lui et qu’il était un être en vie qui m’envoyait sous forme de vibration une information que j’avais reçue.
"É meia-noite, a cidade dorme, começo ouvir o silêncio.
Eu não sou mística,  não ouço vozes e não me emociono com o canto das aves, eu tive esta noite, a experiência real, difícil de colocar em palavras...a minha relação com este seres que chamamos de inanimados, as plantas.
Compreendi que existe na solidão da noite, como se houvesse uma "alma" e as árvores e nós temos exatamente a mesma.
Eu acho que estou sozinha, mas um som fraco me impressionou os ouvidos, um ruído, como uma palavra: diante de mim, uma grande árvore balançando, suavemente, no jovem ar da noite. Ela tem três ramos principais que estão perto, são agrupados por 2, depois 3, batem ligeiramente, oscilam com uma amplitude limitada abaixo e acima majestosamente. As folhas são motivadas por seu próprio movimento, como rostos brilhantes que desligam-se  alternadamente.
Eu olho para a árvore inteira, sacudindo a calma...é sua reação imediata à mínima carícia do ar e eu esqueço tudo. O táxi, hotel, as preocupações, as histórias, as expectativas positivas e negativas, não existem mais,uma calma incrivel agarra-me , relaxo, estou aqui agora e mergulho no movimento desta árvore de deleite. Eu não sei quanto tempo durou o diálogo com a árvore, mas eu tive a sensação de contato com ela, como se fosse  uma pessoa viva me enviando um formulário de informações  e de vibrações que nunca possui."


Muito mais profundo, esse texto representa para mim mais que toda banalidade de discursos ecológicos.
A autora consegue colocar em palavras aquilo que sinto.
Realmente existe tamanha diferença entre nós humanos, outros animais e seres vivos?
A resposta é não, sem dúvida e a encontro no documentário  "Earthlings" (Terráqueos) :
"Terráqueo: substantivo , habitante da terra.
Já que todos habitamos a terra, somo todos considerados terráqueos.
Não há discriminação de sexo, raça ou espécie no termo terráqueo.
O termo inclui cada um e todos nós.
Mamíferos, vertebrados, invertebrados de sangue quente ou frio.
Passáros, reptéis, anfibios, peixes e humanos, igualmente.
Os humanos, portanto, não sendo a única espécie do planeta, compartilham esse mundo com milhões
 de outras criaturas vivas, já que todos evoluimos aqui juntos.
Contudo é o terráqueo humano que tende a dominar a Terra, frequentemente tratando outros terráqueose seres vivos como meros objetos..."


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Me reviro na cama, leve , me escuta , baixinho :
- Tua estrada não percorre mais a minha, agora que sei, que os pedais estão represados, como um pulmão doente e aonde chega teus atalhos de pedra.