sábado, 25 de dezembro de 2010

Eu gosto mesmo é de vida real.



Aqui na cadeira,a janela aberta com o vento dessa noite fresca imagino um pouco de sonhos coloridos e dementes,mas místicos,tudo que sei.
Um balão amarelo legível com a palavra “shame”,voando em nuvens coloridas com passos fundos de um dia comum.Shame,poderia representar milhões de pedaços da sua mente,vergonha,pena,remorso.Qual destes é o que sente?Vergonha do mundo?Remorso pelas pessoas ou pena daqueles que não conseguem ser como nós?
Você,um pouco de mim,um pouco deles,com inaceitação do obscuro e perverso sob este ponto de vista,cheguei a concluir que grãos minúsculos de uma Terra gigantesca conseguem pensar e imaginar o mundo assim.
Escrevo hoje porque o colorido invadiu,não entendo de que maneira,mas por acaso,ou acaso algum.Talvez seja assim que funcione,observando e entendendo pontos opostos de visão,que desembocam no mesmo riacho,limpo,no meio da mata.
Acho graça quando penso em um olhar puro,convencido que consegue por algum motivo sólido mudar.Graça,porque acho pouco.
Desejo por onde começar,por onde ir e me guiar.Não posso me perder,nem nas sombras da realidade mascarada,nem sumir na poeira mal  varrida de vibrações pouco iluminadas.
Não penso como robô,não vivo como tal,não desejo “status quo” e meras atitudes,pouco me importa um olhar de mundo que não é o olhar de um poeta,pouco importa para o que muito importa para o todo.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O Buraco Do Espelho

  o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora







sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Nada mais é preciso:


Quando desço essas ruas com baques de frios na barriga e mãos inquietas,eu percebo que existem ainda muitos motivos para continuar olhando para o dia seguinte como mais um ultrapassado.
Não sei aonde pretendo chegar ou se vou chegar,mas quando sento nesta calçada como agora,sozinha e observo cada pessoa passando,vejo nos olhos e gestos de cada ser humano que existe algum motivo concreto,mesmo que distante,para eles estarem aqui,sobrevivendo.
Eu senti algumas pessoas ao meu redor que se assemelham a mim,são jovens e tocam violões como se fosse a ultima nota trabalhada,com uma vibração forte que não se restringe a chegar ao ouvidos de quem escuta de perto,mas do outro lado da rua percebo pessoas observando para saber de onde vem o som.
A música me levou longe,é estranho perceber o mundo dessa maneira,eu tive uma única visão, agora este se elevou a tantos outros que eu nem consigo encaixar todas as peças em minha mente,são complexos,olhares distintos.
Eu gosto de pessoas,de toques,do cheiro da rua,mesmo poluída,mesmo decadente,mesmo tão suja por pensamentos alheios.Prefiro observar estes animais sozinha,como alguém que estuda uma nova raça,a única diferença é que essa,já é bem conhecida por nós e por outros seres que constantemente sofrem os ataques desses terráqueos tão evoluídos...
A noite chega,é muito mais atraente,tudo funciona melhor,não pelo fato de estar nessa cidade cheia de bares e luzes fascinantes com boêmios e a possível coragem de trabalhadores cansados,mas a  noite em cada canto é muito mais bonita que o dia,talvez porque a noite esconda as decomposições.
 A avenida movimentada buzina gritos horrorosos de seres que não se suportam,de maquinas trabalhadas e muito bem programadas.Lembro-me de filmes da minha infância,onde falsos super heróis agiam inusitadamente e salvavam o planeta e é minha vontade,salvar,um lugar onde caminha para o desastre,para o fim.Não falo somente do homem agindo sobre o meio,mas sobre tudo, toda a ruína que estamos construindo,mentalmente e em nosso porte,mas nós que somos estes homens da força.
Próximo a essa avenida há uma pichação muito sensata:”O herói é aquele que não teve tempo de correr”.
Ao contrario do que parece,amo muito o que me cerca,amo muito esse mundo,a vida e de tanto amar temo e conheço seus defeitos,que são incontáveis.
Me escrever e descrever vocês em um pedaço de papel nos faz tornar a existência mera banalidade,pouca coisa,um pedaço,amassado e sujo.
A importância de viver é tão grande,que perco o motivo para achar o principal fato de vida.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Where is my mind.


O sons que ecoam em meus ouvidos são tão fortes,que posso reviver.

Observei o lado B da cidade,essa era a parte que eu costumava admirar, passado alguns anos desaprendi amar daquela maneira,mas aquela manhã me fazia esquecer qualquer banalidade que haviam transformado.
Era um dia comum,mesmo com ultimas noites mal dormidas,em leituras e viagens sem fim,o meu corpo havia se acostumado.Eu não gostava daquela solidão,mas o tempo e as circunstâncias fizeram o papel de me tornar alguém indiferente.O pequeno apartamento,com sala,cozinha e quarto juntos,se tornara grande para mim,mas eu não me importava mais.
Transformaram minhas ânsias em vontades jogadas em lugar nenhum,me disseram que a vida se encarregaria de mostrar quem vence...E dessa vez foram eles,não eu.
Peguei a xícara,servi o chá amargo,cinzeiro,a cigarrilha,o cigarro,isqueiro,o fogo.Quase como um ritual,sem fim algum e assim repetia-se.
O dinheiro estava escasso,eu nunca compreendi como tal pode comprar comida e amor,mas aceitei e andei precisando.O mundo calou meus questionamentos,decretou silêncio diante o público.Foi-se o tempo que andei sem destino,convencendo e amando pessoas.Agora eu era apenas mais uma,mais uma peça aterrada no jogo,escalada a cumprir meu papel teatral,sempre foi assim,eu que acreditava não ser.
De repente ouvi um esmurro na porta,e a campainha irritante tocou,a porta estava destrancada,”entre logo” ,pensei.Entrou,franziu o nariz,o cheiro de comida estragada deveria estar incomodando.
-Você não se cansa?Quanto tempo não a vejo?
Eu continuei apoiada com a cabeça na mesa,senti raiva.
O som da minha respiração aumentou,ela gritava,com força,chegava ao meus ouvidos como agulhas embebidas em álcool,meu estômago revirou,eu parecia uma doente.Ela me chamou de doente.
-Eu não aceitarei,se não é este que me transformou no que sou,fui eu que o transformei e mascarei com sombras.Estou podre,como o resto da humanidade,como você.
Era minha consciência tentando me executar.